quinta-feira, 12 de abril de 2012

A história e as histórias dos Vasconcellos


O recurso de buscar fontes bibliográficas, pesquisar documentos, teses universitárias, registros históricos e coisas do gênero na elaboração de relatos, tem suas vantagens e desvantagens. Este é um procedimento mais do que razoável quando se perdeu o fio da meada, e as informações de tão esparsas, dão lugar a mais incertezas do que certezas.


Mas o bom mesmo, é como faziam nossos pais e os pais deles, provavelmente, que contavam histórias reunidos em torno de uma mesa, ou se aquecendo nas noites de São João. É a chamada história oral, que tem sabor especial e as vezes dá prá imaginar a cena de tão bem descrita. 


Os tempos mudaram e agora nos reunimos em torno do computador - cada um à frente do seu próprio engenho, cada vez mais potente em gigabytes. Distantes espacialmente entre si: em casa, no trabalho, no shopping, é bom que se registre. As redes sociais reinventam assim as rodas de família, não necessariamente todos ao mesmo tempo, nem no mesmo lugar, mas acaba dando certo. 


Mas chega de conversa.


Esta história que começa a ser registrada na forma escrita, tem mais as características destas últimas que das primeiras - aquelas que buscam a comprovação documental. Além do que esta forma de contar em uma vantagem adicional. É que quem sabe um pedacinho a mais da história, conta; se a versão difere um pouco da que ouviu, explica; fica assim mais rico, mais coletivo, mais família.

Pois bem. Como se sabe Camila Moura, filha de Wenceslau e Constança, e esposa de Faustino, pai de Osório, veio a falecer das complicações de um dos seus partos. Prá deixar claro: foi Camila, que ao parir Manoel Camilo e Camilo Manuel, acabou perdendo a vida e com ela um dos meninos.

Ocorre que a meninada - José, Bela, Virgílio, foi morar com os avós maternos, a exceção de Camilo, o mais novo, que sobreviveu. Osório estava entre estes netos de Wenceslau que deixaram o convício do pai. 

Tempos depois, já casado, homem formado, Osório vai visitar Faustino, e assim foi conhecendo um pouco os hábitos paternos e a sua labuta diárias com os problemas típicos do campo.

Faustino vivia na Capoeira, e estava especialmente preocupado com a quantidade e porte dos roedores que transitavam na casa e no depósito. Resolve assim adotar um predador, passando a criar uma cobra. Não uma cobra qualquer, mas uma "cobra preta" que, dizem os entendidos, não é venenosa, e deu conta de resolver o problema. Mas consta que Faustino desenvolveu um apreço especial pelo réptil. Conta-se que ele conversava com o animal e acreditava ser por ele compreendido. Costume que de vez em quando se repete na família, mudando o personagem e o tipo animal.

Mas Osório não sabia de nada o que se passava. Assim, chegando à casa do pai, depara-se com a peçonha e não contou conversa, numa atitude bravia, pegou um porrete e aniquilou a serpente, certo de que tinha realizado um grande feito. 


Faustino estava fora, na roça ou não muito distante do sítio. Osório, orgulhoso, aguarda ansiosamente a chegada do pai para mostrar o que lhe parecia ser um troféu: a serpente trucidada!

A reação do pai, no entanto, não foi a esperada. Desolado, Faustino passou a lamentar as conseqüências daquele ato, e dizer um quanto era afeiçoado ao ofídio.

O filho, que só pensou em agradar, foi ficando desconcertado a cada comentário do pai, e a visita acabou sendo menos prazerosa que imaginou, e certamente mais abreviada.

NVJ 12/04/2012

Nenhum comentário:

Postagem em destaque