O cofre

Seu João Pedro Lima, na virada para o século vinte, vivia com sua família numa casa de muitas janelas e portas na Fazenda Poções. Era considerado um homem de posses, de modo que não faltou quem o comparasse a Wenceslau Rizério de Araújo. Este, avô do futuro marido da sua filha Isaura. 

Falecido, em 1918, Seu João Pedro deixou algum patrimônio aos filhos dos seus dois casamentos e para sua esposa, Constança dos Santos Lima, a Dindinha. Bem mais nova que o finado, a viúva casou-se com José Severino Rodrigues, o Capitãozinho, e continuaram a morar por um período na Fazenda Poções, antes de se mudarem para Livramento.

Era um tempo difícil, de grande movimentação de grupos armados, chamados genericamente de revoltosos. Por vezes, eram cangaceiros, outras, tenentistas, ou ainda os legalistas. Passavam e requisitavam, ou tomavam, bens ou viveres para garantir o deslocamento da tropa, quando não praticavam outras arbitrariedades ou atrocidades.

Era um terror! Ai de quem não 'contribuísse'.

O fato é que da herança do velho João Pedro, sobrou a fama de que ali morara um homem rico e... um cofre vazio. Os herdeiros ficavam sobressaltados só com a notícia de que passaria por perto uma dessas caravanas. O cofre se transformou numa ameaça. No mínimo, os revoltosos iam querer saber onde estava a fortuna.

Os ocupantes do sobrado pensaram em vender o cofre, mas não apareceu comprador. Doar! Mas quem ia querer passar pelo mesmo aperto? Podia ficar aberto, mostrando que não tinha nada dentro! Arriscado. Poderia fechar e jogar a chave fora...

 - É melhor enterrar! Disse alguém.

 Quem deu a ideia, não sei, mas este foi o destino daquele incômodo móvel que tantos serviços prestara. Naquele momento, entretanto, seria mais útil se descansasse embaixo da terra, pois para ele não havia outra serventia.

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