Forever

Seu Neco era comerciante em Itaquaraí, distrito de Brumado, e uma pessoa muito respeitada. Neco casou uma das suas filhas com Tião Urbano, recém chegado ao lugar. A pedido do sogro o moço foi nomeado pelo prefeito Marcolino Rizério de Moura, para responsável  pelo Cartório local. Não faltou quem reclamasse da indicação, afinal era uma pessoa de fora, e justo quando aparecia uma oportunidade, quem ocupava o cargo não era um filho da terra.

O padrinho Marcolino argumentava, como quem já estava acostumado com o dia a dia da administração pública, e dizia, "eu vou indicar quem? Me diga aí, alguém que mora por aqui que saiba registrar um nascimento, um óbito, passar uma procuração?" Tião Urbano escrevia bem e tinha boa caligrafia. Não havendo contestação adequada - por falta de argumento ou por  respeito ao chefe político, foi indicado Tião Urbano mesmo, pois preenchia as exigências do cargo.

A atividade no cartório permitia cobrar taxas daqueles que utilizavam o serviço, que era público, mas não totalmente gratuito. Apesar da receita obtida com o serviço cartorário, todo sábado Tião ou a mulher comparecia na loja de Seu Neco, para pegar o dinheiro da feira.

Sempre chegava aos ouvidos de Seu Neco que o Tião Urbano gastava o arrecadado com as taxas, na bebida, nas festas. Outros diziam que não, que o dinheiro era pouco, que não dava para as despesas.

O fato que que Seu Neco ficou com aquele assunto na cabeça. Numa determinada semana o cartório teve uma receita boa, nunca se viu tanto menino nascer, gente casar, gente morrer, escritura, procuração... Seu Neco pensou, "É!, nesta semana eu estou dispensado dessa despesa". Mas eis que na sexta-feira mesmo, à tardinha,Tião chega em sua casa. Ficou por ali, esperando que o Seu Neco desconfiasse do motivo da sua presença...  e nada! O tempo passava e Tião foi ficando desconfiado, mas não teve outro jeito: "Seu Neco, eu vim pegar o dinheiro da feira". Silêncio! Era como se o comerciante não tivesse escutado nada.

Lá pelas tantas, o Seu Neco pede licença e segue na direção do curral. Nesta época não havia sanitário, sequer um quartinho, latrina, fossa ou equivalente. As pessoas se aliviavam pelo mato, nas cercanias da casa, e as intimidades não pareciam merecer os cuidados que a boa higiene recomenda.

O fato é que Seu Neco se batia com uma maldita hemorroida. Foi pro lado do curral e por lá ficou. Passou um tempo e ele não voltava pra casa. Tião Urbano, por desinformação das dificuldades enfrentadas pelo Seu Neco, ou por curiosidade mesmo, resolveu tomar o mesmo rumo, mas já intencionado em resolver suas próprias necessidades.

Quanto mais se aproximava do curral, mas escutava os murmúrios do homem, que gemia de dor. Era o sofrimento de quem não conseguira se despachar. Quanto mais se esforçava, maior o desespero.

Tião Urbano passou por perto, fazendo de conta que não estava vendo. Parou alguns metros adiante, arriou as calças, agachou-se, e ato contínuo já se levantava aliviado, bastou uma flexão, e já estava afivelando o cinto...
Seu Neco olhava meio boquiaberto: "Ué, já terminou?" "Já",respondeu Tião, para admiração do sogro.

"Ave Maria! Quer trocar os cu, compadre?"

- Não senhor, muito obrigado.

- Olha! manda passar amanhã lá na loja pra pegar o dinheiro. Um homem com um cu desses não pode passar necessidade. Pode mandar buscar o dinheiro.

E arrematou: "Que cu bom, hein compadre? Valei-me! Que cu bom!"

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