sexta-feira, 6 de abril de 2012

A Fazenda paulista dos Vasconcellos



José de Vasconcellos Bittencourt Junior, ao chegar a Casa Branca, por volta de 1878, formou a Fazenda Terra Vermelha com um provável primo. Terras estas nas quais foram morar Rodrigo e seus descendentes, ao chegar a São Paulo na virada do século XIX para XX.

O referido irmão é mencionado pelo jornal O Tambaú(1) como sócio da propriedade. Segundo a mesma notícia, este irmão teria sido nomeado para a Coletoria Estadual da cidade, cargo exercido por ele até 1923. A questão é: Quem era o irmão de José de Vasconcellos Bittencourt Júnior mencionado naquele relato? Prá começar, temos duas pistas: foi co-proprietário da Fazenda Terra Vermelha e primeiro Coletor de Tambaú.

Fontes históricas pesquisadas(2) referem a uma “fazenda agrícola chamada Palmeiras da Terra Vermelha de propriedade de José de Vasconcellos Bittencourt e outros”, banhada pelo Rio Tambahú, com 824,3 hectares e dividida judicialmente em 1884, antes pertencente ao Conde de Valença.

No mesmo estudo, há outra referência à “Fazenda Terra Vermelha”, no distrito de Tambahú, também pertencente ao mesmo José de Vasconcellos (Coronel Cazuza)(3). Noutro trecho menciona a Fazenda Terra Vermelha “de Cima”, localizada a 6 km da estação de Tambahú, também pertencente ao “Capitão” (sic) José de Vasconcellos Bittencourt e outros, com área de 1.259 hectares.

Então, com diversas denominações, ou simplesmente partes ou desmembramento das mesmas terras, a Fazenda é sempre dada como de propriedade do Coronel . É noutro estudo, contudo, que analisa o financiamento da atividade agrícola na história de São Paulo que, finalmente, surge o nome do suposto irmão de José de Vasconcellos Bittencourt. A Fazenda terra Vermelha é citada como sendo de José e Augusto de Vasconcellos Bittencourt(4).

Para confirmar esta relação de parentesco foi investigada a informação de que o referido Augusto fora nomeado Coletor de Tambaú. Uma busca no Diário Oficial da União, de 1912, resultou na confirmação parcial: Augusto é nomeado, em abril daquele ano, para o cargo de ajudante e, posteriormente, em outubro, designado como Escrivão substituto da Coletoria de Rendas Federais de Casa Branca-SP.

Noutra fonte de pesquisa, procurando indícios da passagem de Augusto de Vasconcellos pela Bahia, uma nova citação é encontrada. Trata-se do trabalho do historiador Erivaldo Fagundes Neves (UEFS), sobre os “Sampauleiros”(5) que tiveram procurações registradas no Cartório de Caetité, autorizando a venda de escravos. Além do nome de Augusto de Vasconcelos Bittencourt (com cinco procurações), temos uma única procuração em nome de Rodrigo de Vasconcellos Bittencourt. Nove outras procurações estão associadas a José de Vasconcelos Bittencourt Júnior.

Parece-me assim, estabelecido um vínculo de parentesco entre José e Augusto de Vasconcellos Bittencourt, como oriundos das Minas do Rio de Contas, proprietários de uma fazenda cuja família de Rodrigo de Vasconcellos Bittencourt passou a residir.

Vale dizer, que também foram anotados registros pontuais de nascimento de outros Vasconcellos na mesma Fazenda Terra Vermelha, a exemplo dos Vasconcellos Spínula (variação de Spínola) (6). Observa-se que alguns dos Vasconcellos Spínula encontrados nestes levantamentos em Tambaú, são igualmente oriundos das Minas do Rio de Contas, tendo se transferido para São Paulo mais ou menos no mesmo período. São indícios da intensa migração.

No entanto, informações obtidas posteriormente permitiu concluir que Augusto não era irmão de José de Vasconcellos Bittencourt, e sim um primo em segundo grau (7). Augusto era filho de Dona Anna Amélia(1810-1909), casada com o Major Francisco de Vasconcellos Bittencourt (1810-1886).


NVJ.


(1)   Ver em A Fazenda Terra Vermelha
(2)   Informação disponível na Revista do Instituto Geográfico e Histórico de São Paulo,  vol. XII, de 1906 (pag. 172 e 212). Como se pode verificar em: http://www23.us.archive.org/stream/revistadoinstit02paulgoog/revistadoinstit02paulgoog_djvu.txt
(3)   José de Vasconcellos Bittencourt passou a ser conhecido popularmente como Coronel Cazuza. Esse apelido teria herdado do próprio pai, que adotou anteriormente essa mesma denominação, na Bahia.
(4)   Ver Tese de RODRIGO FONTANARI – “O PROBLEMA DO FINANCIAMENTO: UMA ANÁLISE HISTÓRICA SOBRE O CRÉDITO NO COMPLEXO CAFEEIRO PAULISTA: CASA BRANCA (1874-1914) UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS
(5)   Ver o texto “SAMPAULEIROS TRAFICANTES: COMÉRCIO DE ESCRAVOS DO ALTO SERTÃO DA BAHIA PARA O OESTE CAFEEIRO PAULISTA”, Disponível em: http://www.afroasia.ufba.br/pdf/afroasia_n24_p97.pdf
(6) Os Vasconcellos Bittencourt também são Spínola, por descendência de Thimóteo Souza Spínola. Também açoriano, três das filhas de Thimóteo se carasaram no Brasil com três Vasconcellos Bittencourt, inclusive José, avô de Rodrigo e José Júnior. 
(7) Mais informações em https://vasconcelosbahia.blogspot.com/2017/05/augusto-de-vasconcellos-bittencourt.html

Nenhum comentário:

Postagem em destaque