domingo, 10 de junho de 2012

Xexéu


Depois de viver cerca de dez anos em Caetité, Isaura volta para Brumado em 1961. Desta vez ela e Osório vão viver na cidade. Residiram em várias casas até que em setembro de 1965, passam a morar na casa da Praça Anastácio.

Aos oitenta anos, Osório tinha enfrentado complicações na saúde que o deixaram debilitado. Gostava de ficar sentado numa cadeira na calçada da sua casa onde sempre passava alguém conhecido, e embora já não escutasse muito bem, trocava uns dedos de prosa. 

Certa feita, lá estava Osório. Bengala na mão, batendo-a no chão cadenciadamente, quando se aproxima seu afilhado David, irmão de Bia, Zezito e Antônio. Osório comenta: - esses filhos de Compadre Liô gostam de aumentar as coisas... Isto custou tanto... Comprou por tanto... Tudo mentira...

Diná, ao seu lado, alertou: "pai, é David."
- "E eu não sei... Tudo mentiroso!"

David, no entanto, já conhecia o estilo do velho Osório e não se importou com o comentário.

Num desses dias, passa um cidadão e o cumprimenta:
- "Bom dia Seu Osório!"

Osório olhou a pessoa, com cara de quem estava estranhando, mas não disse nada.
- "Não está se lembrando de mim?" Insistiu.
- "Não, não estou."
- "Sou eu, José Amorim, filho de Aurélio Padre Amorim, que mora na Lagoa do Rancho."
- "Filho de Aurélio Amorim? Não estou lembrando não", repete o octogenário.

O cidadão se aproxima de Osório e lhe diz no ouvido o seu apelido de infância, que não lhe agrada, e pelo qual não gostava de ser chamado, mas que àquela altura parecia ser a única forma de ser lembrado:
- "Sou eu, Xexéu!"

Então Osório, falando de modo que todos na roda de amigos e parentes escutassem, falou:
- "Xexéu!? É você? Por que não disse logo: é Xexéu, e pronto! Xexéu!"

Acabrunhado, o Amorim saiu arrependido de ter revelado a sua identidade "secreta", aquela pela qual todos o conheciam, mas que se recusava a aceitar.

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